domingo, 28 de setembro de 2008

Mundo, mundo, vasto mundo.


Uma das coisas que aprendi aqui no Japão é que definitivamente vivemos em um mundo muito vasto. A partir daí aprendi que há tantas coisas para se aprender... Veja essa foto ao lado por exemplo. Da esquerda para a direita temos Wasana (Sri Lanka) Monika (Polônia) Eu (Flamengo) Krystof (Polônia) Bharti (Índia) e Shruti (Índia). Essa foto marcava a despedida da Shruti, que faz parte de um programa de bolsas diferente do nosso e que por isso só ficou aqui por um ano. Já tem gente indo embora. Fomos nesse dia a um restaurante indiano. Nunca tinha ido a um restaurante indiano antes, na verdade no Brasil não é muito comum a frase "e aí, vamos a um restaurante indiano hoje?"talvez porque a Índia fique longe demais, talvez porque a comida leve pimenta demais, talvez simplesmente porque não há indianos demais no Brasil, não sei. Mas aqui é comum. Há muitos indianos e restaurantes indianos. Achei fantástico. A comida é boa, mas o que eu gostei mesmo foi de comer com as mãos. Quando você está em um restaurante com amigos, e mesmo assim tem a liberdade de comer com as mãos - que devem ser lavadas antes - parece que se cria um clima de intimidade que o garfo e faca não permitem. Quando se come com as mãos, não há barreiras sociais e bons modos inibindo seu jeito de ser, ninguém fica preocupado com a maneira de se segurar o garfo ou de se cortar a carne, até porque comida indiana que se preze não tem carne mesmo. Eu poderia dizer que comer com as mãos me deixou mais perto dos meus ancestrais tupi-guarani perdidos, mas não preciso ir tão longe, minha avó adorava comer com as mãos. E de pé. Aprendi a comer comida indiana.
Mas aprendi também a fazer. Nesse dia aprendi a fazer um pão parecido com o pão sírio, só que versão indiana. Comi no restaurante e adorei, depois fomos até a casa da Bharti, que é perto do restaurante, e ela me ensinou a fazer o pão. Fácil, rápido, saudável e gostoso. Qualquer dia faço para vocês. Mas desse vasto mundo também aprendi algumas lições sobre casamento.
Aprendi que os casamentos arranjados ainda continuam valendo a todo vapor. Uma coisa é ler sobre isso, outra é ver na prática como afeta a vida das pessoas. Shruti é da casta mais alta lá na Índia, como são quase todos os indianos que ganham bolsa de estudos. Ela tem um probleminha pra resolver - seus pais já estão procurando o seu marido mas ela se apaixonou pelo polonês da foto. É claro que seus pais não sabem disso, porque não vão gostar nada de saber que sua filha planeja se casar com um branquelo não indiano. Por essas e outras ela nem fica perto dele nas fotos. Se ficar na Índia, ela não tem muita escolha, tem de deixar esse negócio de amor de lado e se casar com quem seus pais mandarem. Bem, o jeito que ela arranjou por enquanto foi fazer o mestrado aqui, ela volta em Março. Com isso ganhou um pouco mais de tempo. Mas ainda vai ter de enfrentar as feras mais cedo ou mais tarde.
Ainda sobre casamentos aprendi também que no Sri Lanka - antigo Ceilão para os mais velhos - o sistema de castas e casamentos arranjados vale. Wasana rebelou-se e se casou por amor com um homem de uma casta inferior. Ontem eu a encontrei com um amigo que faz doutorado aqui. Eles estavam em em uma loja de departamentos. Ela me disse que estava ajudando o amigo a escolher um presente para a noiva dele, já que o amigo vai se casar no fim do mês de Outubro. Aquilo me pareceu estranho, afinal se você vai se casar com uma mulher deve pelo menos saber comprar um presentinho para ela. Liguei para a Wasana depois e ela me confirmou - casamento arranjado - ele nunca viu a noiva. Só por foto.
Eu acho que o sistema de casamento arranjados é o sonho de toda mãe. Uma sociedade em que elas pudessem escolher as noivas e noivos dos filhos e filhas seria o paraíso para 99 por cento das mães no Brasil. Só tem um probleminha, esses casamentos não levam em conta o amor. Logo, a questão que se coloca é: o amor importa? Para mim sim, mas isso é questão pessoal, cada cabeça pensa como quer, e outra coisinha que aprendi, não aqui, mas há muito tempo atrás, é que cada cabeça é um mundo. Mas como disse o poeta, , mundo, mundo vasto mundo, muito mais vasto é o meu coração.

Respondendo:

Beijos pra Tia Nanci.

sábado, 27 de setembro de 2008

Beleza é fundamental...
















Boas. Eu sei que segundo o ditado nem tudo que reluz é ouro, mas nesse caso da foto o que reluz é. Esse é um dos mais famosos pontos turísticos de Kyoto, o Pavilhão de Ouro. É na verdade parte de um templo com um jardim muito bonito, mas é claro que ao chegar aqui ninguém dá a mínima pro fato de ser um templo e de haver um jardim, o que interessa mesmo é o ouro. Cada um dos andares também foi construído em um estilo diferente, e pelo o que eu me lembro o segundo e o terceiro andar eram para os samurais e monges, respectivamente.
Na antigüidade o ouro era sinal de riqueza. Hoje ainda é. Li essa semana que com a crise imobiliária americana o preço do dólar caiu, o mercado de ações desvalorizou mas o ouro... bem, o preço do ouro subiu. A explicação dos analistas é que em tempos de crise as pessoas buscam segurança, e como o ouro sempre vai ser ouro (quem é rei nunca perde a majestade) as pessoas buscam comprar ouro porque sabem que seu dinheiro será protegido.Mas uma coisa sempre me deixou curioso: porque o ser humano, desde o tempo em que as coisas ainda careciam de nome, gostam tanto do ouro?
Se pensarmos bem, mesmo na antigüidade não havia motivos práticos para que o ouro fosse tão valorizado. O aço e o ferro são mais resistentes, logo melhores para forjar armas e escudos, contudo era o ouro que valia. Hoje é muito mais prático ter um apartamento do que o equivalente em barras de ouro, mas o ouro é a segurança de que você estará protegido mesmo nas crises imobiliárias. Afinal, de onde vem esse valor todo do ouro?
Bem, quando se vê o Pavilhão dourado, principalmente ao vivo, e em um dia de sol - nesse dia tava chovendo - a gente percebe que o ouro vale o que vale simplesmente porque é bonito a beça de se ver. E o lance é que o o ser humano, desde o tempo que as coisas ainda nem nome tinham, tem uma fascinação inexplicável pela beleza. E aí vai mais uma das tantas contradições humanas, mesmo no frio mundo capitalista, onde o pragmatismo é o importante, o que tem mais valor não é o que é mais útil, mas o que é mais belo. É por essas e outras que a Gisele Bundchen ganha o que ganha e eu não ganho o que não ganho, porque ela é bonita que só.
Mas é claro que há outros tipos de beleza que o ser humano gosta. Por isso é que também gostamos de música, literatura, jardins, história, teatro, conversar com os amigos, enfim: dessas coisas que aparentemente não servem para nada. É que elas são bonitas, e no final das contas são as coisas mais bonitas as que têm mais valor. Bonito né?

Respondendo:

Sarah: É as fotos são bonitas, mas não são Nagoya não, ainda são de Kyoto, talvez o melhor lugar do Japão. O leite vem na garrafinha, como nos filmes americanos de antigamente.

Chris: Pois é, nos final não é que as crianças é que acabam ensinando os pais? Normal, acho que elas são mais sábias mesmo.... O leite é o equivalente ao nosso leite "não pasteurizado" o leite mais gordo, quase igual aquele que você tomava na barriguda quando era magrela e tinha uma bicicleta monark dobrável.

Rafael Cristina: É o Japão é bonito mesmo, acho que você vai acabar vindo pra cá né? Bom, oportunidade não falta, o governo japonês tem muita bolsa de estudo pra quem quiser vir, é só continuar estudando inglês e quem sabe um pouquinho de japonês. Eu aconselho.

Kobelus: Sim, as fotos são de kyoto, e se você quiser dá pra fazer o download de revolução dos bixos e crime e castigo. Cuidado com o crime e castigo, a ediouro tem uma edição, traduzida pelo Cony, que é uma sacanagem, é quase que um resumão do livro e nem chega ao final, um verdadeiro crime sem castigo!

Taynara: Bom, aqui eu sou pago para ficar em ócio, o que obviamente leva a ter mais templo para contemplação o que acaba redundando em teorias ( lembra das aulas né, teoria que em grego é o ser em contemplação das coisas de Deus... enfim) mas se todo japonês em filme é retratado como sábio é uma baita mentira, tem cada japa aqui...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Pra tomar esse leite tem de ser Macho!

Outono

















Boas. Escrevo de Nagoya, onde vim acompanhar um festival de cinema. Sabe como é, cinema no Japão é caro, então tem de aproveitar as oportunidades. Mas esse festival de cinema é um pouco diferente, organizado pela Onu, tem omo temática filmes sobre refugiados de guerra. excelentes filmes. Pra quem quiser fazer o download, recomendo war dance e heart of fire. Pra quem tiver achando a vida ruim também recomendo ver os filmes.
Mas quando eu saí da sala onde o festival acontecia ontem, eu fiquei surpreso com o que vi. Eram cinco da tarde e as ruas de nagoya estavam cheias. Pela primeira vez eu vi prédios ostentando a bandeira japonesa ( não sei bem o porquê, mas eles não são muito de ostentar a bandeira japonesa não) e vi até os ônibus circulando com pequenas bandeiras do Japão. Achei estranho e deduzi que deveria ser algum feriado nacional, algum dia de comemoração de data histórica, batalha vencida, essas coisas assim. Quando cheguei em casa verifiquei o meu calendário e fiquei surpreso ao constatar que era sim feriado, mas não se tratava de nenhum evento histórico, nenhuma batalha vencida de nenhum herói martirizado. Era siplesmente o outono.
Para nós brasileiros, que não temos o prazer de ver as 4 estações, o outono é uma estação de papel. A gente sabe que tem, mas só no papel. Aqui ele se faz sentir. Aquele calor insuportável que nos acompanhou por quase 3 meses vai embora, e uma brisa já meio fria meio forte deixa as coisas mais agradáveis, as árvores vão se transformando. Mas o que me deixou intrigado mesmo foi essa devoção dos japoneses pela chegada de uma nova estação. Porque comeorar uma nova estação como um dia nacioanal?
O Japão tem uma história milenar, mas também polêmica. Algumas de suas vitórias do passado aocnteceram ao custo de humilhação e morte de milhares de koreanos e chineses. Sua última empreitada militar terminou em uma vexaminosa derrota para os americanos... Então acho que resolveram que melhor era não comemorar essas coisas assim, e sim coisas mais importantes e bonitas. Além disso os japoneses têm uma especial veneração pelo ato de contemplar, de ver as coisas mudando na natureza. É por isso que tem tanto jardim aqui. Acho que nós ocidentais gostamos de mudar a natureza, e lá vai construindo prédio, represa, asfalto, eles aqui gostam mais mesmo é de ver a natureza mudar, primavera verão, inverno, outono.

Samara: Beijos e beijos, saudades graaaaaaandes que só...

Sarah: Vi você na foto. De costas, mas eu vi. Beijos, saudades,

domingo, 21 de setembro de 2008

humano, demasiadamente humano

















Boas. Bem, em primeiro lugar eu preciso agradecer a todas as pessoas que, seja através do blog, seja através de emails, orkut, ou do que fosse de alguma forma manifestaram seu carinho no último post. Obrigado. Daqui de longe não há muito que se pode fazer em uma hora dessas. Contudo, nos primeiros momentos, eu pude perceber realmente como a tecnologia e a internet ajudam nessas horas. Eu consegui falar com a minha irmã, pude escrever as coisas que eu queria dizer sobre minha avó no blog e, por incrível que pareça, ao digitar o nome completo de minha avó no google consegui ter informações de sua morte: como foi, o porquê, coisas assim.
Mas algumas horas depois eu pude ver o que a internet não pode fazer. É que eu consegui, através de um site de Teresina, fotos do velório de minha avó. Na foto vi minha tia, dois de meus tios, três primos e meu irmão. Aí dói, porque existe um limite pra tecnologia. Naquela hora ali, era o limite do abraço. Não se pode abraçar de verdade pela internet, e eu queria abraçar minha mãe, meu pai, meus irmãos, tios, primos, mas não dava. Não importa o quanto a tecnologia avance, ela sempre esbarra no limite do humano. Há coisas que são, como diria o filósofo, humanas, demasiadamente humanas pra qualquer máquina tentar imitar...
Eu tenho ido muito a Kyoto ultimamente. Daqui pra frente vocês vão ver muitas fotos de lá. Se você vier ao Japão acho que esse é o único lugar que você realmente não pode deixar de ver, Kyoto é a antiga capital do Japão, e abriga muito luxo e riqueza de tempos passados. Muitos imperadores e Shoguns que tiveram muito poder tentaram deixar suas marcas pela cidade, com palácios e templos. Mas a verdade é que ninguém se lembra mais deles... Os palácios estão aí, alguns recosntruídos, outros reformados parcialmente, alguns ainda intactos. Mas se você perguntar mas e aí, quem contruiu isso aqui?De cabeça ninguém sabe. Tem de olhar a placa, procurar a informação. Tudo o que esses caras queriam ao construir esses enormes templos e palácios era exatemente não serem esquecidos mas... Mas o vento leva tudo. Ou quase tudo. Como disse Quintana, "No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não consegue levar..." E as coisas mais leves são isso, um abraço, sorriso, um exemplo, amizade, essas coisinhas assim, humanas, demasiadamente humanas. Quanto eu falei que minha avó tinha me deixado coisas que ninguém pode arrancar de mim, tava falando disso, dessas coisas mais leves que o vento não leva e que eu recebi de herança.
Bom, acho que é isso. agora vou tentar responder aos comentários...

Deborah - Bem, como eu te disse, eu não sou um filósofo... Beijos,

Kobelus - Obrigado pela mensagem, abração

Vlad - Valeu, foi bom reencontrá-lo aqui.

Chris - Obrigado minha prima. Como você disse no outro comentário só queria te dar um abraço...

Nai - Puxa, bom saber que você está por aqui... Pois é, as coisas mais leves são as que ficam...Um super beijo no Caio.

Mãe - Aqui tá tudo bem. fiquei feliz e honrado em saber que vocês decidiram ler o que eu postei aqui no culto da vó, beijos.

Rafael, valeu, um grande abração pra você, tudo de bom.

Tay - Era sim, uma grande mulher minha vó.

Tatá - É, talvez tenha sido mesmo!! Beijos,

Tio Nogueira e tia Vera - Obrigado pelas palavras de vocês, eu fiquei feliz em saber que vocês gostaram, era o que eu podia fazer aqui de longe...Beijos meus queridos padrinhos, fiquem com Deus.


Saulo: Um abração pra você também Coronel, tudo de bom.


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Edy

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o tejo não mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia(...)

Esse é um dos meus poemas preferidos. Com ele Alberto Caeiro, que era Fernando Pessoa, quis dizer que embora o Tejo fosse conhecidamente um grande rio, o rio que corria pela aldeia dele era melhor, porque era só dele e de mais uns poucos. Hoje, soube eu, morreu minha avó. É difícil escrever sobre ela, porque ela não era um exemplo típico de avó. Nunca me fez carinho, nunca me assou um bolo, acho que nunca nem me chamou de "meu neto." Eu também não era assim um dos netos preferidos dela - é, minha avó tinha lá suas preferências. Quando era natal, uns ganhavam presentes, outros não. Eu era do grupo dos que não. Mas minha avó me deu muito, mesmo sem saber. Minha avó era historiadora, e cá estou, eu também. Ela adorava escrever, amava nossa lingua portuguesa, a lingua de Pessoa, e eu também. Minha avó era professora, e eu… Minha avó me deu tios e tias que eu, de verdade, amo. E me deu uma mãe que me ama por todas as mães e avós do mundo e que eu amo mais do que muito. Minha avó me deu coisas assim, como dizer, coisas para alma. Os presentes que os outros receberam, já se foram, eles nem têm mais, mas os presentes que minha vó me deu, nunca ninguém me tira.
A vida, por muitas vezes, foi dura com ela. E isso deu a ela uma fachada dura também. Era Guerra a minha vó. Ela foi mulher do século 21 em começos do século 20, educadora em tempos de ignorância, protestante em terra de católicos. Mas a dureza de minha vó era fachada. Por dentro era água, vó-mandacaru. As outras avós cozinham bolos, contam estorinhas de ninar e cuidam do Jardim. Minha avó escrevia livros, contava histórias que realmente aconteceram e foi a primeira mulher vereadora de sua cidade. Adorava política minha avó-cidadã. Há de se entender a minha vó, diferente e imprevísivel. E talvez por isso mesmo, porque era diferente e imprevisível, porque pertencia a apenas uns poucos a quem eu posso chamar família, que era mais livre e maior a minha avó. As outras avós são Tejo, a minha era assim, como o rio que passa em minha aldeia.



César, Kobelus, Tatá, Tay e Saulo, eu respondo vocês no outro post, ok?

No dia em que minha vó morreu, o céu tava bonito que só...






































































Eu tava em Kyoto, e visitei um monte de monumentos e templos. Mas apesar de todo aquele patrimônio histórico e cultural da humanidade me bateu assim, de repente, foi mesmo uma vontade de tirar foto do céu. Quando cheguei em casa, recebi a notícia: minha avó morreu. Ah, tá, então era ela...

sábado, 13 de setembro de 2008

Grace finds beauty in everything.


Ontem aqui estava eu, fazendo uma tarefa do século 21 - organizando as músicas no computador - quando me deparei com uma música que me fez pensar um pouco.
Todo mundo sabe que há músicas que nos fazem lembrar de épocas, momentos da vida, coisa e tal. Bem, essa música, eu percebi ontem, me faz lembrar do tempo em que eu vivi no Japão, especialmente em Nagoya. Ela acabou me abrindo as portas para fazer um balanço do que foi a minha vinda pro japão, agora que estou prestes a completar um ano de vida nipônica. então vamos lá.
Quando surgiu a oportunidade, havia um grande número de pessoas que perguntava "quando você voltar, esse curso que você vai fazer lá, vai resultar em um aumento de salário pra você?" resposta: Não. Na verdade quando eu voltar não sei nem se terei emprego. Essas pessoas então me recomendavam fortemente a não vir para o Japão. Para elas o que vale a pena é aquilo que pode ser visto e tocado, são pessoas de pensamento extremamente pragmático e para quem a grana sempre fala mais alto. Respeito, mas não sou assim. Eu considero outras coisinhas também, como por exemplo, felicidade. E eu sabia que de alguma forma tinha me deixado cair em uma rotina besta e anestesiante em Brasília, não que eu fosse infeliz, não o era, mas sabia que podia ser muito mais feliz do que estava sendo. Então resolvi arrsicar.
E aqui no Japão eu tive mais sossego e tempo, aprendi coisas que não sabia e vi coisas que nunca pensei fosse ver. É tão legal quando a gente se pega vendo coisas que nunca pensou que fosse ver, como as grandes montanhas da China, os rios do Tibet os as ruas de Tóquio. Eu acho que esse é um dos segredos da felicidade das crianças, é que elas estão sempre nesse processo de conhecer, e as coisas são sempre mais coloridas quando as estamos conhecendo.
E assim, aqui no Japão, eu pude me centrar novamente, e ser mais feliz como queria ser. Mas é uma condição que independe do lugar onde se está, é que as vezes você precisa de um mudança lá fora pra ajustar as coisas cá dentro, não sei bem explicar. Mas o cotidiano não me deixa mais de mau humor e infeliz como deixava. Pelo contrário. É legal andar de bicicleta, ir ao supermercado, ficar em casa e ler um livro. É legal saber que no Brasil eu tenho tantas pessoas que gostam de mim, as mensagens de carinho que eu recebi e recebo ainda hoje, um ano após minha saída, são prova disso. Se eu vou ganhar um aumento salarial. Não. Mas ganhei coisas que aumento salarial nenhum no mundo poderia me dar, coisas que não se tangem com o corpo, ma com a alma. E quando eu andava de bicicleta, cedo da manhã, com casacos e luvas indo para a universidade, as vezes ouvia essa música no Ipod, e aí eu via como estava feliz da vida.
A música se chama Grace, do U2. Tentando traduzir e resumir a música ao mesmo tempo o Bono, autor da letra, tá tentando falar de um dos conceitos mais bonitos e difíceis do cristianismo, a graça. Em todas as religiões do mundo o conceito operante é o do Karma, que é mais ou menos você recebe aquilo que semeia, o mundo te devolve aquilo que você faz. Mas aí vem Cristo e diz, " não, façamos o seguinte, eu levo a culpa e você pode seguir, leve, de boa. Você não merece, mas pode ser feliz." Acho que é por isso que essa música acabou marcando meus dias no Japão, porque fala de uma felicidade que a gente tem mesmo sem merecer. A música diz "grace finds beauty, in everything" "grace finds goodness in everything" a graça encontra beleza em tudo, a graça encontra bondade em tudo. A rotina tá pesada? Sem problemas, porque "grace makes beauty out of ugly things."

Tay:

Hey, quanto tempo. eu li seu texto, quer dizer, eu acho que li seu texto, porque eu baixei da página da escola mas tava sem nome. O seu é um meio Memórias Póstumas? Se for eu li!






O mundinho que tá ficando besta
















Boas. Aqui estou, ainda me recuperando da viagem a Tóquio. O problema é que não se dorme nessas viagens de ônibus pelo Japão. Bom, logo de cara por aqui não há "rodoviárias." As estações são de trem somente, os ônibus saem do meio da rua, em lugares previamente acertados entre você e a agência de viagens onde você compra a passagem. O ônibus saiu a meia noite e parava a cada duas horas de viagem. Um saco. foi assim até as seis da manhã, quando o ônibus finalmente chegou. É claro que eu poderia ter pego o trem bala, mas teria pago 3 vezes mais, então...
Essas fotos aí ainda são de Tóquio. Como se pode ver, é um cemitério, cemitério de samurais. Antigo. Interessante. Mas é engraçado perceber como uma cidade como Tóquio, ou um país como o Japão, abre várias possibilidades para o turista. Explico. Encontrei um brasileiro nissei carioca quando escalava o Fuji. Ele inventou de me dar umas "dicas" do que conhecer no Japão e em Tóquio. Eu não consegui aproveitar nenhuma das dicas dele, que iam de estúdios da MGM em Osaka, que fica há uns 40 minutos daqui, até a Disney Tóquio. Não fui. Não vou. Isso aqui é o outro lado do mundo, e eu quero ver o que há de mais japonês no Japão, não o que há de mais americano. Mas é escolha de cada um né? Se eu desse a dica pra ele, "ei cara, vai no cemitério de samurais em Tóquio, você vai se amarrar" acho que ele ia achar que eu sou louco, ou pior, necrófilo, sei lá.
Em Tóquio fui também no museu da guerra. Muuuuito interessante. entre outras coisas vi um submarino pra kamikase, que eu não sabia que existia. Mas o mais interessante mesmo é ver como a história pode cada ser contada de vários ângulos. Indo ao museu eles quase que te convence, que o Japão foi "obrigado" a atacar Pearl Harbor, e um marciano sai do museu com a dúvida, Mas quem ganhou a guerra mesmo? Eu que estive na China no começo do ano, na cidade de Nanking, vi a versão dos chineses para o massacre de Nanking, que os japoneses chamaram aqui de "incidente" de Nanking. Heheheh, duas histórias bem diferentes.
Bom, desculpem se o post tá cultural demais. É que eu andei acessando uns sites brasileiros hoje que me deixaram maluco. Site que fala das "celebridades" brasileiras. É tanta futilidade, é tanta babaquice, é tanta imbecilidade que dá vontade de cavar um buraco e enfiar a cara. Ou então de falar de um museu de guerra do Japão, de um cemitério de samurais que não são o casamento da Sandy mas só se pode ver aqui. Babaquice, como o Luciano Huck chegando atrasado para o casamento da Sandy, pode-se ver facilmente hoje em dia de qualquer lugar do mundo, é só ligar o computador. E assim caminha a humanidade, cada dia um pouco mais estúpida. Parece que esse mundinho tá ficando cada vez mais besta. Mas não tá não. Tem muuita coisa interessante por aí. "no quarto escuro, a única visível coisa, o próprio ato de ver" Então vejamos!

Kobelus:

E aí bicho. Pô, não é que Tóquio é completamente diferente do que se vê na Tv, mas é bem mais organizada e calma do que parece. E carro japonês também não faz barulho, o que deixa a cidade quieta, bem quieta. Acho que outra coisa que ajuda é que não tem tanto ônibus, já que o povo anda mesmo é de metrô, e os ônibus que tem não soltam aquela fumaça preta com aquele barulho de turbina de avião. é tudo calmo...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Isto é Japão...





Então, compartilho com vocês a minha dúvida. O que será isso no topo daquele prédio em Tóquio? Eu já gastei muito tempo pensando nisso, e já cheguei a minha conclusão. Sabe como todo país tem o seu monumento ao soldado desconhecido? Bem, esse aí é o monumento ao vegetal desconhecido...

Os jardins do sr Imperador
























































Bem, o palácio imperial em Tóquio é um pouco frustrante. E o é porque na verdade não pode ser visto. Vê-se um quarto dos jardins do Palácio, que vocês podem ver nessas fotos aí. O resto fica só para o imperador... Mas uma coisa interessante aqui no Japão é que em todos os lugares, inclusive no jardim do seu imperador, não existe aquela incoveniente plaqueta "proibido pisar na grama." A grama é linda, bem cuidada, e é para as pessoas usarem. As pessoas fazem piquenique na grama, jogam bola, ou simplesmente descansam embaixo de alguma sombra. Não importa bem o que se faz, o importante é que a grama é bem cuidada e é para as pessoas usarem! Ah, essa casinha aí do lado é uma espécie de guarita da época dos Tokugawas, do período Edo, antigo nome de Tóquio. Nessa época esse era o último "check-point" para se chegar ao palácio, e era uma guarita para os melhores guardas do imperador, os samurais.

As legítimas


essas não soltam as tiras, não perdem as cores e não saem do pé, o maior chinelo do mundo, direto da parede de algum templo de Tóquio.

Cenas de Tóquio
























































Boas. Cheguei de Tóquio. Estou morto. Vida de turista é mesmo dura, andando de um lado para otro nesse outono ainda verão japonês. Diz a lenda que em Tóquio moram 10 milhões de pessoas, nos subúrbios de Tóquio mais 25 milhões de pessoas, e que Tóquio teria uma população flutuante de 35 milhões de seres humanos. Bem, eu me preparei então para ver uma cidade 3 vezes mais caótica do que são paulo, mas não vi. O que eu vi foi isso aí, prédios altos , muitos prédios, mas parques, muitos parques. Podem me chamar de louco, mas não vi um engarrafamento sequer. O trânsito de Brasília é 10 vezes pior do que de Tóquio. Claro que o sistema de metrô da cidade é uma outra cidade subterrânea, mas enfim, os urbanistas por aqui pensaram nisso. Aliás essa é minha principal relutância em chamar Oscar Niemeyer e Lúcio Costa de gênios. Fizeram uma cidade bonita que eu amo, mas também fizeram uma cagada fenomenal. Construíram uma cidade pra carros, não conseguiram pensar além de seu tempo, e gênio é quem pensa para além de seu tempo. Bom para Roriz e Arruda, que podem ficar ricos agora as custas do metrô que Brasília não tem. ( ou alguém ainda ousa chamar isso aí de metrô?)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Quem tem medo do ursinho Pooh?


Boas. Então, como vocês podem acompanhar pela televisão choveu bastante por aqui, mas em minha pacata Otsu nenhum problema com as chuvas. Também devem ter visto por aí que o primeiro ministro por aqui renunciou, coisas do parlamentarismo, quando não tá dando mais o cara pede pra sair. Mas na verdade o sistema político aqui é bem "estável" eu acho até muito estável pro meu gosto, vejam vocês que há dois partidos por aqui que realmente brigam pelo poder, só que, desde o final da Segunda Guerra até hoje um deles só governou por uns dois anos se eu não me engano, e outro tá mandando o resto do tempo. Um projeto de poder pra fazer qualquer Zé Dirceu salivar de inveja, é ou não é!
Bom, mas chega de assunto sério demais. Eu hoje só deixei meu apartamento por um curto período de tempo pra ir até o supermercado fazer compras. Me bateu uma fraqueza ontem e eu pensei, putz, isso é falta de carne na veia, tem tempo que eu só andava comendo camarão e salmão. Não deu outra, fui no supermercado, coloquei a mão na carteira e comprei uma bandeija de carne, meti tudo na panela e mandei pra dentro, foi o meu almoço. Vocês precisavam ver como fiquei disposto novamente! Minha fraqueza era só falta de carne... espero agora que essa injeção na veia dure por um tempo, sabe como é, aqui não se pode ficar comendo carne a toda hora!
No domingo eu vou finalmente visitar tóquio, vou ficar por lá uns 4 dias. Eu estou morrendo de medo, porque em todos os filmes japoneses que eu vi na minha infância tóquio é destruída por monstros gigantes que acabam com a cidade. Mas o que estava realmente me aterrorizando é que nessa semana prenderam uma gangue que, vejam vocês, estava assaltando as pessoas na rua em Tóquio! ( isso pros japoneses é um horror, uma gangue que assalta as pessoas na rua!) Mas como aqui é o Japão, a coisa era organizada. O chefe da gangue se vestia de ursinho Pooh, o braço direito de Mickey e o terceiro elemento de Pateta. A arma era uma faquinha insignificante. Não tiveram muito sucesso porque logo no primeiro assalto foi difíil correr com toda aquela roupa e "se misturar" na multidão. Eu acho que quem devia ir preso era o mané que foi assaltado. Não se pode levar a sério um sujeito que se deixa assaltar pelo ursinho poo de canivete né? Eu tô preparado, nessa foto que tirei hoje mesmo tô mostrando minha arma, se o ursinho poo vier eu saco o meu revólver de fantasia! Sem falar na cara de mau. Adios, besos, buenas.














segunda-feira, 1 de setembro de 2008

comida, ou tabemono.

















    Eu acho que já falei de comida aqui, mas sempre é bom falar desse assunto né? No Brasil comida japonesa é muito ligado a sushi e sashimi, e todo mundo que quer ser moderninho é bacaninho diz curtir comida japonesa, quando o cara quer impressionar a guria acaba levando em um restaurante japonês, essa frescalhada toda. 
     Mas a verdade é que a comida japonesa é bem mais do que sushi e sashimi principalmente quando estamos falando da vida diária. É claro que o sushi principalmente é bem presente, afinal esse é o único lugar do mundo que eu saiba onde se compra sushi no supermercado, e pela metade do preço depois das 20:00. Mas por exemplo, na região do monte Fuji o principal prato é o udon, esse macarrão que vocês podem ver na tigela aí da segunda foto. O Udon normalmente se come com as tempuras, que são um monte de coisa empanadas, de abóbora a camarão. É uma delícia...
    Mas na vida diária o japonês come muito mesmo é o "obento." (calma galera, não é o Bento...) O obento é a nossa quentinha, só qeu não tão quente... São esses PFs que se compra nos supermercados. Como aqui ninguém tem tempo pra nada, todo mundo tá sempre trabalhando, o pessoal compra isso aí nas lojas de conveniência e nos supermercados. É barato e prático. há também vários tipos, mas quase todos com arroz e algum tipo de peixe, frango ou porco.  A minha dica é a seguinte, compre o almoço de amanhã hoje no final da tarde, você vai conseguir comprar o Obento pela metade do preço. Esse aí que vocês tão vendo é o meu almoço de amanhã, espero que o camarão não estrague até lá... Beijos, David