quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Dia normal


Boas. Resolvi tirar uma foto hoje onde eu finjo estudar, haja vista que eu estou aqui para isso. Mas a verdade é que hoje eu nem estudei tanto assim. Acordei umas nove quase dez e tomei um café lento enquanto via o Flamengo empatar um jogo besta com o Vitória. Depois fui para a universidade para uma aulinha básica, depois, duas e pouco da tarde, voltei e almocei. Três horas recebi a visita de um eletricista que veio verificar um probleminha com o interruptor de luz. Engraçado que no Japão essa galera que conserta coisas toda tem todo o equipamento, caminhãozinho, caixinhas de feramentas. Aquela figura clássica do eletricista de chinela havaiana e camiseta regata por aqui não existe não. Assim que ele resolveu o problema eu saí um pouco para ver o lago, mas tá meio frio para isso. Na volta banho e as promoções do supermercado, onde comprei o jantar de hoje (carne de pato e um pão) e o café da manhã de amanhã. Aí, só depois aí, resolvi estudar um pouquinho. Aproveitei a ocasião para tirar a foto que vocês podem ver. Parece que eu tive sorte e o meu apartamento não é daqueles que no frio vira um gelo, dá pra ficar de boa. Lá fora é que a coisa tá pegando mesmo. Ah, hoje também assisti ao vídeo-comercial de 30 minutos do Obama. Hehe, os marketeiros do Brasil têm muito, mas muito para aprender. O horário político do cara parece um documentário, nada de parecido com as coisas que a gente vê por aí. Agora vou estudar um pouquinho mais e daqui a pouco para cama mimi. Com uma alteração aqui e outra ali, esse é mais ou menos um dia normal da minha vida japonesa. Ah, hoje também eu falei português! Com os meus pais pelo skype... Besos..


Respondendo:

Samara - Pois é, tô sabendo que o calor por aí tá pegando. AFFFFFFFF!!!!!!!!!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Pão ou pães é questão de opiniães!


Boas. Outro dia me perguntaram o que eu penso sobre a reforma ortográfica que tá rolando aí no Brasil. Engraçado que quando se está em uma condição assim como a minha, sem se poder falar o idioma "mãe" a gente acaba refletindo mesmo mais sobre essas coisas. É que por mais que se fale bem um idioma, você nunca consegue se expressar com as riquezas e nuances com que você se expressa na sua língua. E é engraçado como o idioma acaba refletindo o jeito de ser do povo. A língua realmente é a pátria. Por exemplo:
Outro dia eu tava no trem e vi um cartaz onde estava escrito 間違う。Eu não sabia o que era então puxei o meu dicionário e vi que é a palavra "matigau" ou "erro" em japonês. O detalhe é que, como vocês podem ver, há dois caracteres para se formar essa palavra. O primeiro significa espaço, o segundo significa diferença. Pronto, pro japonês o espaço onde há diferença é um erro. Talvez por isso eles se esforcem tanto para não sobressair, para serem iguais...
O português é a quarta língua mais falada do mundo, muito graças a nós, é verdade, e a concordância em alguns detalhes pode facilitar ainda mais o contato entre os países de língua portuguesa. Mas sou contra a tal reforma. Primeiro porque a língua é viva, e vai se transformando. As regras podem até padronizar um português formal (aquele que a gente não sabe escrever direito) mas nunca vai conseguir padronizar o que as pessoas falam na rua. Além disso parece que dessa vez o trema cai mesmo. Ele já vem caindo aos poucos, coitado, e seu uso já é facultativo em muitos casos. Acho uma pena. Eu, de minha parte, não agüento escrever sem o trema, e continuarei a usá-lo. Agüentarei as conseqüências. Por fim, depois de 500 anos o nosso idioma se transformou em um português com a nossa cara, que mostra um pouco da personalidade do brasileiro. Eu já falei aqui por exemplo do nosso apreço pelos diminutivos. Como falei, acho que a língua diz muito do caráter do povo. E nós não somos portugueses, ou angolanos, ou timorenses. Somos brasileiros.
Mas se o governo quer mesmo facilitar o aprendizado do português, pode começar dando educação pra massa que não consegue ler e compreender um jornal. Isso sim é importante. O resto são detalhes. Como disse o escritor brasileiro Guimarães Rosa, pão ou pães é questão de opiniães!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

De volta do silêncio


Boas. Voltei. Depois de uma pequena pausa, um silêncio curto, é verdade. Tem gente que não gosta do silêncio, mas eu adoro. Aliás isso é um dos atrativos do Japão, o silêncio. Os carros são silenciosos. Os ônibus, desligam os silenciosos motores, quando parados no sinal vermelho por exemplo. Até as crianças por cá parecem mais silenciosas. O silêncio é também prova de intimidade - a gente só consegue ficar confortavelmente em silêncio com as pessoas com as quais nos sentimos íntimos. Na música, dizem as más línguas, que o bom músico é aquele que sabe, principalmente, a hora de não tocar.
O probema é que o povo se incomoda um pouco com o silêncio. Tem gente que parece sempre ter de ter uma opinião formada sobre quase tudo. Eu de minha parte, prefiro ficar em silêncio quando não tenho nada a dizer. Mas vamos ao que se tem a dizer.
Por aqui o frio já aperta. Eu prefiro. Acho que quando voltar ao Brasil vou sentir falta do frio de cá. Principalmente nesses dias em que o inverno ainda não chegou de vez e o sol ainda brilha forte. A minha empresa de seguro (não, eu não sabia que tinha uma) mas parece que eu tenho um seguro contra incêndio. Por uma dessas coisas que não se entendem do Japão, o meu seguro contra incêndio cobre também a enchente que rolou no meu apartamento. Me deram um formulário pra colocar um x nas coisas novas que eu vou precisar, de colchão a roupa, passando por computador e tal. Eu perguntei como eu ia mostrar que a coisa tinha quebrado, eles falaram que bastava tirar uma foto, Aí eu pensei em tirar uma foto de um tênis velho todo ferrado, e de umas roupas mais pra lá do que pra cá, além do meu colchãozinho já meio ferrado. Ia ganhar uma grana boa. O problema é que de verdade de verdade, não estragou nada. E é difícil ser desonesto com quem é honesto com a gente. Ademais a gente no Brasil reclama tanta de político que rouba milhões, e muitas vezes a gente se corrompe por pouco, por uma multa, por dez reais aqui, por uma ninharia ali. Enfim disse a eles que não estragou nada não, tá tudo tranquilo. Só pedi para lavarem meu tapete. Já levaram, disseram que semana que vem tá pronto. No Brasil, quando bati o meu carro o seguro não pagou porque eu não sabia o nome da rua em que o acidente aconteceu. O problema é que em Brasília as ruas não tem nome...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

As elites de tropas

O primeiro a noticiar a ação de uma tropa de elite foi Heródoto. Era Agosto, 480 antes de Cristo, e na estreita passagem de Termópolis 300 soldados de elite comandados pelo rei Leônidas tinham uma missão suicida: atrasar, o quanto possível, um exército de alguns milhares de persas. A desproporção era tamanha que o rei persa, com pena dos espartanos, chamou Leônidas de lado e disse “Ora, deixe disso, nos deixe passar em paz. Veja, nós somos em número muito maior. Nó somos tantos que, se eu ordenasse somente aos meu s arqueiros que lançassem suas flechas neste exato momento, o volume de flechas cobriria a luz do sol.” “ótimo” respondeu Leônidas, “assim lutaremos à sombra.” Acompanhando aqui do Japão o que tem acontecido aí no Brasil, uma pergunta me inquietou: há no Brasil tropas de elite? Cheguei a conclusão de que não, não as temos.
Os mais afoitos vão dizer que estou errado e por fora, afinal temos até um filme “tropa de elite” que levou um tal capitão Nascimento ao posto de herói nacional! Como assim não temos tropas de elite? Eu me lembro de quando saiu o filme em que o “herói” Nascimento bate, tortura e mata. Eu estava navegando pelo site do BOPE quando uma amiga minha que estava perto se interessou. Ela me perguntou o que eu estava vendo, “o site de uma tropa de elite da polícia no Brasil” eu disse, ela falou “Pára de inventar, fala sério, que site é esse?” Ela não acreditava que era um site policial, porque no logotipo havia uma caveira com um punhal cravado de cima abaixo. Quando eu disse a ela que o maior orgulho do dito grupo de elite era uma carro que se chamava “the big skull” minha tosca tradução para “o caveirão” ela disse, meio contrariada, meio incrédula, a famosa não frase de De Gaulle “isso não é um país sério.” Eu não disse nada. Nem podia.
Tropa de elite é cirurgião, não açougueiro. Quando se precisou que o BOPE agisse como cirurgião, como no caso do ônibus 174, um policial de elite errou um tiro a cinco metros do alvo e acertou a refém. Outros policiais de elite mataram, asfixiado dentro do camburão, o sequestrador do ônibus. Veja, no que diz respeito ao BOPE do Rio, aquilo não é uma tropa de elite, é uma tropa de guerra urbana. A melhor do mundo, é verdade, mas tropa de Guerra urbana, não de elite policial.
No mais recente caso envolvendo tropas de elite no Brasil, o GATE de São Paulo negociou por um dia e conseguiu uma refém. Só que no outro dia a devolveu para o sequestrador novamente. O final foi a tragédia que todos nós conhecemos. Não vou entrar no mérito se a polícia deveria ter invadido antes, ou se deveria ter atirado no sequestrador com um atirador de elite. São questões técnicas que não domino e, ademais, não importam tanto. O que importa é que, nas duas maiores cidades do Brasil, quando houve uma necessidade de intervenção crítica das tropas de elite, o resultado foi o desastre. Então, de quem é a culpa?
Os primeiros a quem não se pode culpar são os policiais. No Brasil os policiais de elite treinam mais, trabalham mais, são submetidos a maior pressão e ganham o mesmo de seus colegas de corporação. São pessoas envolvidas com um trabalho desgastante ao qual se dedicam com afinco, quase sempre sacrificando suas famílias, amigos e a si mesmos. Se são mal preparados, a culpa não é deles, é do Estado que os prepara. O Estado que subverteu o que é ser polícia no Brasil, o Estado que permite que uma polícia tenha uma caveira como logotipo e hinos do tipo “Homem de preto, qual é sua missão?… Entrar pela favela e deixar corpo no chão… Homem de preto, que é que você faz?… Eu faço coisas que assustam o satanás”… O Estado que não protege, nem ao policial nem ao cidadão, esse é o culpado. A sociedade desestruturada que o sustenta, é culpada. No mundo todo polícia prende, justiça julga e imprensa noticia. No Brasil, a imprensa julga, a polícia mata e a justiça solta.
O Estado não protege porque aqueles que o comandam, ah, esses têm suas tropas de elite. São as multidões de seguranças particulares, carros blindados e armas de última geração que servem as autoridades e aos endinheirados. E se por acaso esses endinheirados e autoridades são os que cometeram o crime, bem, nesse caso eles têm a outra tropa de elite, de toga preta e assento na famosa praça dos poderes, que dizem que algema na mão de doutor é humilhação, mas nas mãos de preto pobre mostrado em horário nobre é serviço público. Esses donos do poder nunca precisarão dos BOPE e dos GATE, portanto pouco se importam se seus policiais tem o treinamento, material e remuneração adequados. Presidente, senadores, deputados federais e estaduais, governadores, são todos culpados pelas tragédias que todo dia acontecem. Mas não os grandes culpados.
O grande culpado mesmo, esse somos você e eu. Somos nós que achamos normal polícia bater e matar, que achamos normal politico roubar e juiz se achar acima do bem e do mal. Nós, Cidadãos brasileiros, que assistimos a mais uma tragédia, com uma comoção verdadeira mas inerte, que continuamos a votar nos mesmos hipócritas ineficientes de ontem, que vamos nos acotovelar no velório da menina para mostrar nossa solidariedade para com a família da vítima quando o deveríamos fazer nos acotovelando em frente aos palácios de governo, em frente às câmaras de deputados. Sim, porque não se iluda, enquanto as elites tiverem suas tropas, nunca haverá no Brasil tropas de elite. Leônidas sacrificou suas tropas, mas alcançou seu objetivo. O que dói é que no Brasil nossos sacrificados têm morrido em vão.

Alagado


Boas. Vejam vocês o que me aconteceu neste fim de semana. Não sei por que cargas d'agua resolvi, de sábado para domingo, pegar o meu futon (colchão japonês) colocar no chão e dormir no chão mesmo. Percebe que este não é um comportamento normal, eu não faço isso todos os dias, devo ter feito umas duas vezes desde que aqui cheguei, pois bem, nesta noite de sábado para domingo resolvi fazer novamente.
Dormi como um anjinho até umas três da manhã, quando um estranho sonho me pertubou. Eu sonhava que estava afogando. Logo eu, um exímio nadador, que quando criança fui o sétimo lugar nos 50 metros rasos para seis pessoas. Acordei atordoado, e quando dei por mim, o quarto estava alagado. Houston we have a problem.
Durante a noite o meu aquecedor resolveu vazar água, e foi vazando a noite toda, e alagando todo o carpete, até chegar no futon em que eu dormia como um anjo. Quando eu vi aquilo tudo molhado, levantei assustado e pensei "Putz que M. que eu faço agora?"Bom, a primeira providência era tentar parar o maldito vazamento, só que eu não tenho ferramentas aqui no Japão. Mas a falta de ferramentas não ia me deter. Afinal eu não sou um japonês ou um gringo bobo, sou brasileiro nato, um rapaz latinoamericano sem dinheiro no bolso e vindo do interior (afinal Brasília é interior) e assim sendo deixei fluir o meu lado mais rústico. Na parte inferior do aquecedor havia algo parecido com uma tampa, e eu pensei, "tenho de arombar essa josta" e comecei a chutar. Como os chutes não estavam dando muito efeito, haja vista o fato que eu estava de pés descalços, eu peguei a frigideira, uma faca e, lembrando os melhores momentos de McGiver abri a maldita tampa no tapa.
Depois de tê-la aberto, deparei-me com dois registros, um vermelho e outro preto, e me recordei dos bons filmes policiais, onde há dois fios a se cortar, e em se cortando o errado tudo vai pelos ares. Bem, respirei fundo. Decidi que o registro preto era o registro a ser fechado. Comecei a fechar o registro preto, primeiro cuidadosamente, depois com a pressa dos alagados. Depois que terminei de fechar o registro preto, verifiquei que havia fechado o registro errado, o vazamento continuava. Ainda bem que não era uma bomba... Fechei o vermelho e estanquei o vazamento. Agora era só computar o prejuízo.
Alguém uma vez disse que pobre é fogo, vive dizendo que não tem nada mas quando a chuva vem reclama que perdeu tudo. Bem, eu não tenho nada mesmo, então não perdi nada. Mas o carpete ficou alagado. E eu perdi uma noite de sono. E eu quebrei o aquecedor. Como estou morando no Japão, resolvi tentar fazer os meus direitos de consumidor!
O maior problema de fazer valer os seus direitos de consumidor no Japão é reclamar em japonês. Há de ser incisivo, sem ser rude, há de se fazer entender que não está contente com um sorriso nos lábios. Liguei pra a empresa que administra o condomínio e falei que havia saído água do aquecedor. Acho que a atendente não confiou muito no meu Japonês, pediu para que eu aguardasse até segunda para que eles pudessem mandar alguém e verificar o que tinha acontecido. Na segunda eles mandaram dois senhores que deram o veredito: trocar o aquecedor e o carpete, uma semana fora do apartamento. É claro que eu não tenho de pagar por nada disso, e é claro também que a administradora me arranjou um outro apartamento, maior que o meu, para que eu passasse essa semana. E é claro também que eles me pediram mil desculpas. Pediram tanta desculpa que eu pensei "hum, talvez eu possa lucrar mais com essa história." Fui até a universidade e reclamei com a senhora responsável pelos estudantes estrangeiros. Ela ligou para a companhia e disse que se desculpar somente não era suficiente. Eles disseram que vão pensar em uma maneira de me recompensar pelo trauma e transtorno. Ficaram de me ligar essa semana para dizer como.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O mundo 5.0

Paulo Coelho é um sucesso. Ontem comemorou cem milhões de livros, isso mesmo, cem milhões de livros vendidos no mundo. Eu confesso que tinha um certo preconceito com o autor. Nunca tinha lido mas, pelo que via, não gostava. Para remediar isso, fui ao blog dele e li trechos dos best sellers além de considerações que ele faz para o blog. Agora, mais aliviado, posso dizer que não há preconceito, eu simplesmente não gosto mesmo.
Agora que ele é um sucesso , isso é. Foi o único autor brasileiro que eu já vi traduzido por aqui. Fora isso, todos os estudantes internacionais, seja da europa, oriental, ocidental, Rússia, E.U.A, Índia, todo mundo sabe quem é Paulo Coelho. Aí eu me pergunto, por que cargas d'agua esse cara é tão famoso?
Eu me arrisco a dizer que ele acerta ao se comunicar com as massas, e as massas estão, cada vez mais, da média para baixo. Eu acho, e veja bem, é achismo mesmo, pura opinião de alguém que não vai mudar em nem um penteleonésimo a fama e a fortuna de Coelho, que é exatamente porque é pior que ele vende mais do que João Ubaldo Ribeiro, para mim o melhor escritor brasileiro ou António Lobo Antunes, para mim o melhor escritor da língua portuguesa hoje.
Eu vou além e me atrevo a sugerir o mesmo raciocínio para a política. Aí é que eu acho que mora perigo para o famoso Barack Obama. Ele fala bem, é inteligente, cursou Harvard, ou seja, tá um pouco acima da média. Aí quando o americano médio vai pensar no seu voto e vê o Obama, ele simplesmente não entende. Sem falar no racismo é claro. Na hora da pesquisa, sim, eu voto no negão, mas no secreto do voto o racismo secreto também pode se mostrar.
Mas enfim, Paulo Coelho está aí, conhecido no Japão e no mundo,e cheio da grana (imagina se ele ganhou só um real por cada um dos cem milhões de livro que vendeu). Pelo menos, bem ou mal, tá difundido a leitura, o hábito de ler. É melhor comer mal do que não comer. falando nisso...
Olha só o mundo em que você vive, o Bush deu 700 bilhões para salvar empresas milionárias, que no fim de semana já estavam fazendo festas regadas a champanha e caviar. Enquanto isso, como você pode conferir nesse vídeo da BBC, http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/7444753.stm a galera continua a morrer de fome. Para quem achava que isso já tinha acabado no mundo, tá aí, tapa na cara da gente. Desculpa que o blog saiu assim, meio sério demais, mas depois de ter visto esse vídeo hoje, não deu vontade de mais nada, só de pensar, putz, esse é o mundo que a gente tá criando?





quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Brasil: um bando de japonês jogando futebol


Boas. Uma coisa me tem intrigado aqui no Japão: a falta de porradaria no futebol. Para quem está acostumado a jogar futebol, uma das coisas que não pode faltar em uma boa pelada são lances polêmicos, discussões e um tostãzinho aqui e acolá. Pois bem, a cada segunda feira eu tenho de me controlar, porque aqui não se discute para nada no jogo de futebol. Para começar, se faz uma roda, e na respectiva ordem, cada um fala seu número, 1, 2,3, 1,2,3,1,2,3 e assim os número um se juntam com os números um, dois com dois, e assim, por diante. No Brasil a porrada já come na escolha do time, uns chegam com a panelinha formada, outros reclamam que fulano só escolheu os melhores, aqui, nada.
Depois, durante o jogo, não há lance polêmico. Quer dizer, que há, há, mas não existe a polêmica. Se você acha que foi gol, foi gol, se você acha que foi falta, foi falta, e se passam duas horas de futebol sem uma reclamaçãozinha sequer. Segunda feira aconteceu um lance em que o outro time começou o jogo e fez um gol quando a gente ainda estava colocando os coletes, eu fiz menção de reclamar mas olhei para os meus colegas de time e nada, todo mundo aceitou o lance sem problemas... Essa falta de uma maior "calor" no jogo ainda acaba comigo.
É ruim porque uma das razões que nos impulsiona a paraticar o esporte é exatamente extravasar. Só que aqui não há muito espaço para isso. Aí eu penso, será que é por essas e outras que de quando em vez um maluco resolve extravasar e mata dez no metrô, corta cabeça de quinze não sei onde, será que é culpa do futebol? Hum, aplicando o raciocínio ao contrário, será que no Brasil, onde a porrada come solta no futebol, se tem uma nação mais pacífica? É, é isso, porque extravasamos no futebol somos um povo pacífico, eureka!
Bom, o problema é que não. O brasileiro é um dos povos mais violentos do mundo. Basta ver as taxas de criminalidade. Essa balela de povo da paz é conversa pra brasileiro ver. Nós somos é do sangue. Só que a nossa violência a gente volta contra o povo mesmo. Imitando nosso presidente, e fazendo uma analogia futebolística, é briga de mesmo time, é povo contra o povo. Tá indignado com a saúde pública que é uma vergonha, briga no trânsito. Tá com raiva porque vive numa rua feia sem iluminação e cheia de esgoto, assalta alguém no ônibus. Tá revoltado com o deputado que é corrupto, corrompe o policial pra se livrar da multa. Tá com raiva que o salário não dá até o fim do mês, quebra a perna de um no futebol! Se a gente canalizasse essa raiva toda pro lugar certo, sai de baixo, não ia ter um corrupto pra contar história...
Então tá, minha teoria não funcionou, a gente é violento no futebol e no dia a dia. A gente só não é violento mesmo pra exigir o que é nosso por direito, pra ser cidadão. Nessa hora nós somos mesmo é um bando de japonês jogando futebol.

PS: Ah, assisti hoje ao último debate dos gringos. O Lula vai gostar do McCain, que disse que vai abolir as taxas de importação do etanol brasileiro. Única menção em todo o debate ao Brasil. O resto era colômbia, venezuela, Iraque...Dessa vez tiveram pena do velhinho e fizeram o debate sentado. Acho que de tanto assitir a debates estou virando especialista. Por exemplo, o Obama diz muito a frase "eu concordo com você nesse ponto" au acho que isso não é bom. Se concordar, fica calado. Outra coisa é que ele gagueja um pouco pra começar a falar parece um pouco aqueles carros a alcool de antigamente. Mas que o Barack é bem melhor do que o McCain, isso é.


Respondendo:

Kobelus: Bem, a roupa da foto anterior é só para fins didáticos...

Sarah: Espero que você assuma o poder logo!

Ruth: Gracias, por todo! E como dices, besos en el cuerpo!

Tia Vera: Obrigado por aocmpanhar o blog!! Beijão.

Tatá:Obrigado você, e os créditos são obrigação...

Tay: Obrigado. Alunos como vc. nem precisam de nós, professores.

Lulu: Hum, como estão as coisas em Winnipeg? Tem de pelo menos aprender a esquiar hein!



quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dia do professor



Boas. 15 de Outubro, dia do professor. Sou professor e normalmente odeio falar sobre o assunto, mas enfim, hoje é dia. Então vamos lá.
Há uns dois meses atrás uma empresa de consultoria gringa, a Mckinsey & Company, soltou uma avaliação sobre educação no mundo. A afirmação que chama atenção, logo de saída, é "The quality of an education system cannot exceed the quality of it's teachers" traduzindo "a qualidade de um sistema educacional não excede a qualidade de seus professores" agora traduzindo para o português telecurso 2000 "ninguém pode dar o que não tem."
Escrevo isso porque li, em três jornais diferentes, três governos diferentes (São Paulo, Brasília e Minas Gerais) encherem o peito para contar como estão modernos porque introduziram a meritocracia no sistema educacional; os professores que trabalharem em escolas que mostrem avanços ganharão bônus, grana, bufunfa.
Ora, é óbvio que isso é bom. Mas quando bônus vira política educacional, é porque alguma coisa está errada. Bônus está para e educação como a operação tapa buracos esteve para as estradas do país, funciona por um tempo, fica bonito por um tempo, mas se não reformarem as estradas não adianta nada. E quais são as estradas do sistema educacional?
Uma delas, talvez uma das principais, é o professor. Exatamente pela frase acima citada, "ninguém consegue dar o que não tem." Professores medíocres, dificilmente conseguem inspirar alunos, e sem inspriração não há aprendizagem. O professorado é artesanal, ou seja, vai sempre depender da figura do professor-artesão, por mais que haja tecnologia e avanços, é profissão, não é emprego, se não há vocação, paixão, nada feito. Para ser professor, não se pode ser medíocre. Um professor medíocre dificilmente consegue produzir uma educação de excelência. Mas o professor bom não é aquele que sabe tudo. Quer saber a que horas se deu a independência do Brasil? Vai no google. Eu mesmo não sei. Ninguém sabe tudo. Ninguém sabe nada. Fazendo uma comparação gastronômica, bom professor não é aquele que enche a barriga do aluno, mas sim aquele que faz o aluno ficar com fome. Porque quem tem fome vai sempre procurar comida.
O problema é que, eu tenho de admitir, o sistema tem alguns tantos professores medíocres. Eu, que sou professor também da rede pública do DF, já trabalhei com professores que não conseguiam concordar o verbo com o sujeito. Isso porque os salários, que no caso do DF são os mais baixos do governo, não atraem os melhores. Concurso para professor deveria ser o mais difícil. Contudo, para ser difícil, precisa atrair os melhores, que hoje se sentem pouco estimulados pelos salários. Portanto, precisa sim aumentar salário, e bônus não é salário. Só que aumentar salário não basta, porque para ser professor ser apenas um "ótimo especialista" não é o suficiente, é preciso ter caráter. Bom caráter.
Outras profissões prescindem do bom caráter. O sujeito pode ser um bom advogado e um cachorro sem escrúpulos (dizem até que no caso dos advogados esses são os preferíveis), um ótimo médico e um mau caráter, mas professor não. Isso porque o professor está exatamente ajudando a formar caráter. A educação precisa de caráter.
Talvez essa seja uma das grandes dificuldades que os políticos têm em fazer políticas que realmente melhorem a educação. Ouço aqui no rádio, enquanto escrevo, que os deputados distritais do DF estão bolando um jeito de aumentar suas verbas de gabinete de setenta e oito mil reais para noventa e oito mil reais, sem criar forte rejeição da opinião pública. É isso. Esses nunca vão fazer nada de real e estrutural pela educação, porque como disse, educação precisa de caráter. Vão no máximo exibir em seus programas eleitorais, cheios de orgulho, o fato de terem criado bônus de dois salários e meio para professores.

PS: Correndo todos os riscos, resolvi blogar uma foto minha em sala de aula. Créditos a Thaís Batalha que estava lá para fotografar o mico.


Respondendo:

Rafael: Pô legal, mas não fica tanto tempo afastado não!!

Tay: Anotado, falarei sobre a reforma ortográfica!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Perdão!















Boas. Tenho aproveitado para assistir muitos debates políticos esses dias. Vi os dois debates para a presidência dos Estados Unidos e mais um para vice presidente. Além disso vi o debate em São Paulo. Bem, do debate para presidente dos Estados Unidos pode-se ver que, ou os caras fazem logo essa eleição ou o McCain morre antes do pleito. O véio tá mais pra lá do que pra cá. No debate a vice, o Biden, vice do Obama, colocou a bonitona do Alaska no paletó. Mas uma coisa eu digo, se o McCain vence, ela é que vai acabar sendo a presidenta, (porque como já falei, ele não dura muito mais não) aí o mundo vai pro saco.
O debate de São Paulo foi uma emoção só. A Marta Suplicy detonando o Kassab, e ele sem querer se defender. Só que foi demais, a lady botox exagerou na dose, deu ataque histérico, ficou irritada, enfim, perdeu o debate, e sozinha. Acho que pra ela, a prefeitura de sampa já era. Sem dizer que agora ela tá insinuando que o cara é gay porque não é casado e não tem filhos, ou seja, ou eu caso ou arranjo uma cria logo, ou daqui a pouco a Marta tá fazendo propaganda na televisão dizendo que eu sou biba!
Mas eu tô gostando mesmo é das eleições no Rio. Lá eles vão ter de fazer um Yon Kippur, o dia do perdão judeu, só para os candidatos. É que o Gabeira pede perdão de um lado, porque falou que não sei quem tem uma visão suburbana do mundo, o Paes escreve cartinha para dona Marisa do outro, pedindo perdão por ter dito coisas sobre o Lulinha, enfim, uma palhaçada só. Mas como a gente deve aprender com tudo, eu estou aprendendo muito com as eleições do Rio. E preciso. Vejam vocês o seguinte caso: ontem foi feriado. Dia do esporte e da saúde. Eu, para bem celebrar a data, peguei a bicicleta e aproveitei o dia que, apesar de frio, era de sol. Quando estou feliz da vida, com o sol na cara e o vento nos cabelos, uma mensagem chega no meu iphone (mentira, é só para fingir de chique). Era a minha professora de japonês, lembrando-me de não me esquecer (hehehe, eu adoro esse negócio de lembrar de não se esquecer) de levar o DEVER DE CASA de 10 páginas que ela passou para que fizéssemos durante as férias. Bem, é claro que eu não fiz o dever durante as férias, afinal isso seria uma contradicão em termos, e agora me vejo nessa situação desagradável de ter de fazer um dever de casa porque não posso nem usar o velho truque do "uassuremashita" (esqueci!).
Acho que o melhor é eu me inspirar no Paes e no Gabeira e pedir logo perdão para essa mulher pelo livro que eu não deixei ela escolher, ou ela vai fazer dos meus últimos meses no Japão um verdadeiro "inferno nipônico." Por isso que eu gosto de política, a gente aprende TUDO!


Respostas:

*Profundamente influenciado aos inúmeros debates políticos que tenho assistido, só responderei aos comentários que me foram favoráveis no último post.

Samara: OBRIGADO!!!!

Tay, kobelus, Ruth e Christiane: Quando vocês tiverem um blog eu vou querer direito de resposta!

domingo, 12 de outubro de 2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Só mais um pouquinho

Japoneses não dizem nada diretamente. Outro dia minha professora de japonês pediu que eu escolhesse um livro para estudar os caracteres chineses. Na verdade ela já havia feito a escolha dela, mas como japoneses não dizem nada diretamente, ela fez mais ou menos como nós fazemos com as crianças: "você quer esse carro feio e quebrado, ou esse outro lindo e maravilhoso?" Bem eu, em uma experiência sócio-antropológica misturada com a vontade de ver o circo pegar fogo disse, "eu quero esse feio e quebrado mesmo."
A minha professora entrou em pânico, e foi engraçado ver a cara de espanto dela. Por dentro eu me divertia muito, mas mantive a linha. Ela me perguntou novamente, mas agora devagar, para ter certeza de que eu havia entendido a pergunta, e eu, tão devagar quanto ela havia feito a pergunta, respondi em bom e alto japonês, "EU QUERO AQUELE FEIO MESMO" he, he, he. Eu queria ver se ela finalmente ia fazer valer a sua vontade e me dizer claramente que ela preferia o outro livro. Na verdade para mim pouco importava o livro que ela ia adotar, eu queria mesmo e que ela não me tratasse como uma criança imbecil e simplesmente me disesse, claramente o que queria. Mas ela não disse. Japoneses não dizem nada diretamente. O porquê disso eu não sei. Talvez a razão seja o fato do Japão ter sido no passado uma sociedade altamente hierarquizada (bem, ainda é), ou porque é próprio da cultura oriental falar por parábolas e coisa e tal, não sei bem. Mas e os brasileiros?
Brasileiros também não dizem nada diretamente. Segundo Sérgio Buarque é por isso que o brasileiro usa tanto o diminutivo. Quando alguém fala "vamos embora" e o outro responde "só mais um minutinho" na verdade este outro está dizendo "Não vamos embora coisa nenhuma!" só que como nós não somos muito de dizer as coisas como elas realmente são, a gente mascara com os diminutivos. O porquê disso? Talvez pelo fato do Brasil ter sido (bem, ainda é), uma sociedade de senhores que mandam e comandados que (nem sempre) obedecem. Como eu digo sempre a vocês, há mais semelhanças entre brasileiros e japoneses do que supõe nossa vã filosofia.
Mas o exemplo mais engraçado da maneira japonesa de ser veio mesmo do consulado no Rio. Um brasileiro aqui que é responsável por contratar professores brasileiros no Brasil para ensinar em escolas para crianças brasileiras aqui, me contou que, de quando em quando, o consulado no Rio nega o visto. Quer dizer, nega não, segundo o consulado "a pessoa se negou o visto, porque não preencheu todos os requisitos necessários para obtê-lo." Sensacional. Não é aquele "não" direto de embaixada americana, próprio dos povos anglo-saxões. É um não japonês, que parece querer dizer, "a gente disse sim, mas você mesmo se disse não, então..."
Mas uma coisa eu aprendi: não é muito bom ficar fazedo experiências com essas nuances culturais. Tem de entender que eles não falam diretamente mesmo e saber ler nas entrelinhas. Veja meu exemplo. Na hora que eu fingi não entender o que minha professora queria, foi muito engraçado. A coitada acabou tendo que adotar o livro que eu, de sacanagem, escolhi. Mas agora em compensação... já me recebeu no primeiro dia de aula com uma provinha básica. Da próxima vez eu vou entender o que ela quis dizer não dizendo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A arte de vender o peixe (ou o morcego)







































Boas. As fotos aí em cima são um bom exemplo de uma arte que é cada dia mais necessária hoje em dia: a arte de vender o peixe. Vejam vocês que um belo dia, andando por um desses tantos cantos do Japão, deparei-me com um super anúncio. O anúncio era sobre a caverna em questão, uma das "melhores cavernas do Japão" onde o visitante poderia encontrar "uma imensa variedade de morcegos" era o "lar dos morcegos" isso e aquilo. Eu não me impressionei muito, mas estava viajando com gringos e o problema de se viajar com gringos é que para eles todas essas bestagens são coisas fenomenais, e aí o pessoal que tava comigo quis porque quis entrar.
Eu não me animei porque na fazenda do meu avô, a famosa "barriguda", quando era eu ainda menino-buchudo, dormia-se na rede com os morcegos fazendo vôo rasante nas nossas cabeças. Quando perguntávamos para ele o que era aquilo, na esperança que ele dissesse "é nada não, só um passarinho", ele retrucava "é nada não, é só um morceguinho..." a conversa prosseguia, "mas vô, morcego é perigoso..." e ele "esses daqui num fazem nadinha, só comem frutas" (para o meu avô nenhum animal na fazenda era capaz de fazer alguma coisa de mal, assim como nenhuma fruta, por mais preta que estivesse, estava estragada.) Veja, quando se é criança, o único morcego amigo é o batman, o resto quer pular na sua jugular e chupar o seu sangue, de maneira que batia um medinho dos morcegos. Mas depois de um certo tempo acostuma-se, e agora eu realmente não vejo o porquê de se pagar para ver morcegos, mas sabe como é gringo, paga para ver até formiga, de maneira que lá fui eu visitar a famosa caverna dos morcegos. Aí é que entra o empreendimento japonês.
A dita caverna é uma caverna normal. Não se vê nenhum morcego, afinal seria perigoso para os padrões japoneses de segurança e higiene. (ah se eles conhecessem a barriguda...) Pode-se ir até um certo lugar, onde há um portão com uma tela bem fininha e os japas ficam contentes da silva em saber que, dali para diante, há morcegos. É claro que para entrar na caverna o visitante ganha um capacete com a figura de um morceguinho bonitinho, para entrar se passa por uma catraca eletrônica igual a do metrô (isso mesmo, na entrada da CAVERNA), mas o que me impressionou mesmo foi ver, dentro da caverna, esse anúncio luminoso com o mapa da caverninha e todas as informações. Ou seja, com infra-estrutura, os caras fazem dinheiro explorando o nada!
Aí é que eu digo, a arte de vender peixe (ou o morcego). No Brasil há zilhões de lugares maravilhosos, mas o povo não sabe vender o peixe. Só para comparar de leve, coloquei por último uma foto de uma "placa" da chapada dos veadeiros em Alto Paraíso. Um lugar cem milhões de vezes mais interesante do que a caverna dos morcegos, mas sente o nível da infra-estrutura, com a placa anunciando : "çaltu proibidu na cachoeira por amor atenda ao giha" Nessas horas é que a gente pensa, ó Deus meu, porque nos desamparastes?????


RESPONDENDO:

Kobelus: é verdade, o mapa do Japão, eles falaram isso. Mas eu não vi o filme não, e se tivesse visto mentiria dizendo que não vi, pô bixo, Karatê Kid 3???

O jardim de Pedras


Há coisas que, por mais que tente, não consigo entender. Uma delas está aí ao lado: o jardim japonês. Esse jardim japonês estilo ZEN fez fama no mundo todo. Se você sair de sua casa agora vai encontrar uma minuatura desse jardim no extra mais próximo. Este aí do lado é o pai de todos, o mais famoso, o mais fotografado o mais ban ban ban. Fica em um templo budista muuuito famoso, aqui do lado em Kyoto.
Pessoas vêm de todo o Japão para conhecer esse jardim Zen. Há vários calendários com fotos deste jardim em todos os ângulos. Amigos, quando eu fui a este templo e em momento de meditação, sentei-me e contemplei este jardim por alguns minutos eu vi: isso é só um monte de pedras. Sinceramente, não consigo entender o que há de tão especial nessas pedrinhas. Eu li, pesquisei, vi que as pedras estão colocadas de maneira tal que, de qualquer ponto, é impossível vê-las todas ao mesmo tempo, fazendo uma analogia ao conhecimento que nunca é completo mas, mesmo assim, não consegui ver nada além de um monte de pedrinhas com algumas pedronas. Há quem diga que acalma, sei não, a única coisa que eu senti contemplando esse jardim foi uma vontade danada de correr e bagunçar essas pedrinhas...


Chris: Você não está fazendo o chá verde corretamente. Pelo seu relato percebi que tá muito forte. É só um pouco de chá, e você deve colocar água quente mais de uma vez. A cor tem de ser um verde clarinho. Nessas condições o chá é delicioso, além de saudável!

Kobelus: Respeito sim...... E a segundona vem aí, DE NOVO hehehehehe!

Tatá: É , pode ser... tô esperando hein!

Sarah: Nem tanto, nem tanto...

Lu: Ah, uma boa feijoada!!!!!!!!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Deste Chá Não Beberei


Tudo na vida é uma questão de costume. Ou, se preferirem um ponto de vista mais biológico, uma questão de adaptação. Vejam os senhores o seguinte caso.
Quando cheguei aqui no Japão, há pouco mais de um ano atrás, levei dois choques no campo gastronômico. Choquei-me com o arroz e com o chá.
Quando era eu ainda um jovem estudante de história na Unicamp, nós todos dávamos graças a Deus porque no Bandejão de lá nos serviam suco. É que no Bandejão da USP a bebida era leite. Parecia-nos infinitamente melhor almoçar tomando suco do que almoçar tomando leite. É bem verdade que nunca sabíamos ao certo qual era o sabor do referido suco, por isso nos referíamos a ele pela cor, assim o diálogo era "hoje tem suco de quê?" "Ah, hoje é suco de vermelho" ou "Hoje é suco de amarelo." Era ruim mas não era leite. Aqui no Japão meu espanto foi ter de tomar chá verde, quente, no lugar do nosso popular suco. E é claro que o chá é sem qualquer adição de açúcar, a simples menção de se colocar açúcar no chá aqui é visto como um sacrilégio pior do que, digamos, jogar pedras na cruz. Quando vi que o bandejão aqui servia chá, fiquei com inveja do bandejão da USP. Preferiria leite.
Outro probleminha que eu tive foi com o arroz. Vejam que meus problemas eram simplesmente com dois símbolos nacionais, o chá e o arroz. Para vocês terem uma idéia, digamos que o chá e o arroz estão para o Japão como o futebol e o samba ou, para mantermos o paralelismo gastronômico, como a feijoada e a caipirinha estão para o Brasil. Mas o que se há de fazer, não gostei do arroz. O arroz japonês é cozinhado daquele jeito meio grudento, mas esse não é o maior problema, o duro mesmo é que não há, não pode haver, qualquer adição de tempero ao arroz, nada de sal, azeite, pimenta, nada: ele deve ser degustado naturalmente, para que se possa perceber todo o seu sabor. Eu simplesmente não aguentava, tacava um shoyo, pimenta, sal, tudo que dava, pra ver se pegava um gostinho, mas era difícil. Tive ainda de parar de adicionar coisas ao arroz porque percebi que os japas não gostavam de ver o gaijin tacando coisas no arroz (a única coisa que se pode adicionar é aquele troço que aqui eles chamam de sassame, e que eu nunca soube o nome em português e mesmo no Brasil só chamo de alpiste de gente.) Eles não gostam que se adicione nada ao arroz porque o arroz é o mais sagrado dos alimentos, eles o comem de manhã, no almoço e no jantar, aliás na língua japonesa café da manhã, almoço e janta é, traduzindo, algo como "arroz da manhã, arroz e arroz da noite."
Mas hoje, como disse, passados um ano e uma besteirnha, me peguei no bandejão pensando "putz, ese arroz tá bom" foi aí que caiu a ficha, era o arroz como os japoneses comem, sem nada, sem tempero algum, e que eu já venho comendo há algum tempo e que hoje, para meu espanto, me peguei gostando. Achei engraçado e fui pegar mais um copo de chá para acompanhar, e no caminho fui pensando que a gente nunca deve dizer "desta água", ou melhor, "deste chá não beberei." É tudo uma questão de costume ou, se preferirem, de adaptação.

PS: NA foto sou eu, em Kyoto, em uma tradicional cerimônia do chá japonesa, bebendo e adorando uma tigela de chá verde.

LU: Putz, num lembra desse óculos que me bate UMA RRRRRRAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIVAAAAA!! Beijos :)


Kobelus: Gostei do respeito ao estandarte do flamengo, "aquela bandeira vermelho e preta" você evitou falar o nome da bandeira do mengão em vão, muito bom!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Omiyagui


Boas. Começaram as aulas, e com elas meus tormentos. Morar em uma sociedade cheia de regras e normas sociais, para alguém assim como eu, esquecido e desligado das coisas do mundo, é uma atividade no mínimo perigosa. Vejam por exemplo o omiyagui. Omiyagui é o nosso presentinho, nossa lembrancinha. Aqui no Japão o omiyagui normalmente é um docinho, como esse aí ao lado, da região que se visitou. Bom, os japas dizem que cada região, cada cidade, tem o seu docinho característico, para mim eles são todos os mesmíssimos, recheados sempre com uma pasta de feijão doce não muito agradável ao meu paladar. Aí ao lado você pode observar uma foto de um docinho de Nara, uma das cidades mais antigas do Japão, que foi capital antes de Kyoto. Em Nara tem muito veado. Calma, não é que Nara seja uma espécie de Campinas ou Pelotas do Japão, tem muito veado o animal, e aí vocês podem ver que esse omiyagui tem um veadinho desenhado na caixa. O detalhe é que o veadinho tá cagando, até aí tudo bem, porque em Nara também tem muito cocô de veado. Só que se vocês perceberem direitinho o omiyagui em questão é em forma de cocô de veado é, digamos assim, uma alusão fecal, talvez uma resposta para o ditado brasileiro "só não come bosta porque fede" pois bem, pode comer então, porque essa aí não fede. Mas não é bem dos doces em forma de bosta que quero falar, mas sim da obrigação do Omiyagui.
O problema é que, por costume, regra e obrigação, sempre que se viaja, mesmo que seja para uma cidade a dez minutos de distância, deve-se se comprar uma caixinha de doces como essa para o pessoal do trabalho. Se você não trabalha, como eu, para o pessoal da sua sala, seus amiguinhos e professores. Por quê? Bem, é que quando você viaja você faz uma coisa legal, alegre, você se diverte. Aqui isso é visto também como um sinalzinho de egoísmo, e em uma sociedade que preza o comunitário, ser egoísta é ruim, então você compra o omiyagui para mostrar para seus amigos que você se divertiu, mas pensou neles, lembrou deles. Enfim, o omiyagui é o nosso chaveirinho brega com o lindo dizer "estive em Poços de caldas e lembrei-me de você" É uma maneira de dizer, "desculpa por ter me divertido!!!"
O problema é que eu nunca lembro de comprar o bendito omiyagui, e nessa volta as aulas, tá todo mundo trazendo omiyagui, me dando omiyagui, e eu, tô de mãos abanando. Esqueci de comprar os malditos doces. Sabe como é, nós ocidentais bárbaros, prezamos mesmo o egoísmo. Quando a gente viaja traz no máximo umas fotos pra mostrar pros outros ao invés de dizer "desculpa por ter me divertido" estamos dizendo "olha o lugar maravilhoso que eu fui e que você não foi! hahaha!" Aqui não, no Japão você tem obrigação de ser altruísta, de se lembrar do seu professor chato e daquele colega de turma pentelho. Mas aí vem a pergunta: altruísmo continua sendo altruísmo, se imposto? Quando eu compro algo por obrigação, dizendo "lembrei-me de você" será que todo o propósito da mensagem não foi por água abaixo? Não sei, só sei que fui correndo no supermercado comprar uns docinhos quaisquer. Eles dizem, viajei muito nessas férias, não me lembrei nenhum um pouco de vocês, mas sei finjir direitinho. Ou quase. Afinal, se procurar bem, a pessoa vai ver que o doce foi comprado bem ali, na esquina. Mas pelo menos mostro que me lembrei de ter esquecido de lembrar.


RESPONDENDO, ou NÃO.

Lara, Obrigado, beijos!

Tay: é, passou rapidão... Beijos!

Lu: Voltou mesmo!! Beijos!

Kobelus: E aí, gostou da receita?

Sarah: Pois é, tava na rua. Vou mandar um email marcando hora :)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

1 ano


Boas. 1 ano. Isso mesmo, faz um ano que cheguei aqui. Saí do Brasil na segunda dia 1o de outubro de 2007, e cheguei aqui em uma quarta, 03 de Outubro. É que a viagem é longa e o fuso horário confuso, era quarta aqui mas ainda terça por aqui. Pra comemorar eu mudei a cara do blog, como vocês poderam notar. Depois de um ano achei que já tava mais do que na hora. Também queria agradecer a todos que acessam, fazem comentários, mandam emails, por conta dessas coisinhas esse ano foi moleza. E para relembrar, resolvi repostar o meu 1o post... Beijos e obrigado, David.





RUMO A TERRA DOS SAMURAIS
Todo mundo jah sabe que todo comeco eh dificil... O comeco de uma nova vida de estudante entao, do outro lado do mundo... voces ja imaginam neh? A minha primeira dificuldade, como voces jah devem estar percebendo , eh com o teclado dos computadores... alem de nao haver nenhum dos acentos que a gente precisa ( se houver nao tenho a minima ideia de onde ficam) a barra de espaco eh pequenininha, e perto dela ha tres botoes que fazem a mudanca automatica para um dos tres alfabetos utilizados no japao, e eu, obviamente, a todo momento esbarro em uma delas e ai.... ai eh o inferno meu amigo!!
Bom, mas vamos as noticias... Depois de pegar um voo as 5:40 para Sao Paulo e chegar em Guarulhos as 7:20, fiquei no aeroporto ateh umas 12:00, quando uma velha amiga minha a Cynthia ( beijos titi, com vc. as escalas sao bem melhores!) me pegou para almocarmos. Fomos ateh o shopping Villa Lobos, onde almocei com ela e com o Andre, um outro velho amigo - eh isso pessoal, quem tem amigos tem boas escalas de 18 horas! Em Sao Paulo eu comprei uma calca para a viagem, tomei banho, andei pelo shopping e jantei no pizza hut. O tempo passou rapido e jah era hora de ir para a fila de embarque do aeroporto...
Foi nesse momento que a ficha caiu. Foi ali que a minha mao ficou fria pela primeira vez e que eu pensei ` putz, pra que eu fui me meter nessa...` mas ai jah era tarde demais, a Cynthia me empurrou pra fila e eu embarquei em um voo da JAL rumo a Toquio, com escala em New York!
Foi um voo tranquilo, o lugar ao meu lado estava vazio, a comida era boa e eu dormi bastante, ajudado pelo excelente vinho frances a bordo. Chegando ao JFK o desembarque tambem foi tranquilo, meu visto americano estah expirando em Dezembro e depois de me desejar uma otima estadia em Nova Iorque a funcionaria da imigracao disse ` and you are gonna need a new visa sir,
eh vou mesmo, mas basta a cada dia seu proprio mal, depois eu penso em como tirar outro visto americano...
O aeroporto de Nova Iorque eh gigante, comprei um cafeh pequeno que era maior do que qualquer cafeh gigante no brasil, agora eu sei porque os americanos andam tao gordos.... Em Nova iorque eu comecei a sentir o desconforto de uma mah escolha... A calca que eu comprei foi ficando um pouquinho mais solta, e como eu havia escolhido nao usar cinto pra evitar ter de tira-lo na seguranca de embarque, minhas calcas estavam querendo cair a todo momento! Mas consegui deixa-las no lugar, pelo menos por enquanto...
O voo NY/ toquio, eh....... looooooooongo! Sao 13 horas! O aviao sobe ateh o canadah, depois atravessa todo o pais das maples trees, atravessa o estreito de bering e vai rumo ao japao... A comida muda, os jornais tambem, embora o aviao seja o mesmo...eu dormia muito, porque estava realmente cancado, mas mesmo assim nao chegava nunca...
Quando finalmente aterrissamos em Toquio pensei, chegamos! Finalmente!! Soh que o aeroporto de Narita eh gigannnnnnnnnte, o aviao ficou uns 10 minutos andando no solo pra chegar ao local de desembarque, lah chegando minhas malas jah estavam rodando na esteira, diferentemente das horas que elas levam pra chegar nos aeroportos do Brasil, na alfandega nada demais, o cara soh me disse, hum new brazilian passaporto hum! Em menos de 15 minutos depois de ter pisado em solo estava no local de desembarque...
Ali o pessoal da Jasso, a organizacao de estudantes que cuida dos estrangeiros, jah tinha tudo organizado, muuuito organizado. Devem ter chegado ao mesmo tempo uns 40 estudantes estrangeiros, fomos dividos em grupos, quem vai ficar no hotel, quem vai pegar um onibus, quem vai pegar um taxi, eu era do grupo do hotel, porque soh iria pegar o shinkansen - o trem bala - no outro dia, assim, recebi deles as passagens do trem, 25.0000 iens pra ajuda de custo nesses dias e toda a orientacao do que fazer. Depois me levaram direto pro hotel, onde tomei um banho de banheira bem quente e aguardei minha viagem pra Nagoya... No hotel, fiquei no quarto com mais dois outros brasileiros. Um eh um garoto da Urgs que tah fazendo doutorado em biologia molecular, o outro um garoto da USP que estuda letras japones. A noite nos saimos pra tentar explorar Toquio, mas como o hotel fica a horas da cidade, resolvemos explorar o aeroporto mesmo... As oito da noite eu jah estava rolando de sono, e nao via mais nada, a gente voltou pro hotel e eu apaguei sentado em uma cadeira enquanto os caras usavam a internet...
A noite em Toquio nao foi boa, o fuso-horario ainda atrapalhava muito, acordei umas tres da manha nao consegui dormir mais. A gente saiu cedo pro aeroporto pra tomar cafeh da manha, depois voltamos ao hotel onde encontramos o pesoal da jasso que ia nos levar ao metro e de lah ao shinkansen - o famoso trem bala.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Motorneiro de metrô em Estocolmo.















Veja como somos contraditórios nós todos, que foi ontem mesmo que eu falei que este era um blog sobre o Japão e não falaria de Brasil e é hoje mesmo que eu vou falar de Brasil. É que eu não posso deixar de fazer meus comentários nessa época de eleições. E vou falar de uma só coisa: zona.
É que eu vi que no Rio de Janeiro tá uma discussão danada porque tão dizendo que o Gabeira, que tá subindo nas pesquisas, é zona sul. Eu ri muito desse comentário, porque de tão óbvio ele é ridículo. É claro que o Gabeira é “zona sul”. Todo político brasileiro é zona sul.
Alguém aí tem dúvias por exemplo de que o Lula, tomando os vinhos que toma e fumando os charutos que fuma, é zona sul? Será que alguém no Rio em sã consciência vai dizer que o Paes e o Crivella são zona norte? E sabe porque todo político brasileiro é zona sul? Porque todo brasileiro é zona sul.
Bom, mas eu preciso dizer o que eu entendo por zona sul. Ser zona sul não é ser rico. Pode ser, pode não ser. Ser zona sul é ostentar riqueza. E tem coisa que brasileiro gosta mais do que isso? Desde as peruas da Oscar Freire levando baculejo na Daslu, passando pela classe média com duas empregadas em casa, desembocando no barraco com TV de tela plana, todo brasileiro gosta de ostentar riqueza. Isso é normal em país como o Brasil, que está em processo de desenvolvimento.
Esse é outro ponto. Não adianta querer tratar o Brasil com era vinte anos atrás. O Brasil não é mais país zona norte. País zona norte é Eritréia, Sudão, Chad, Timor Leste, Bolívia. É triste ver que o debate politico no Brasil ainda é o mesmo de cem anos atrás. A questão não é saber quem é zona sul ou norte, mas sim quem vai nos tirar dessa zona sul e levar para uma zona franca, onde se tenha livre acesso a bens mais duráveis, como educação e cidadania.
Mas é engraçado demais ver a intelectualidade defendendo o Gabeira. Olha só essa pérola do blog do Caetano Veloso, “Que diabo é isso de dizer que Gabeira é “Zona Sul”? Gabeira é mineiro, jornalista, foi revolucionário exilado, trabalhou como motorneiro de metrô em Estocolmo.” Heheehehehe eu ri demais com esse argumento, ele não é zona sul porque foi motorneiro de metrô, em Estocolmo!!!
E isso é o Brasil, milhões podem acessar o comentário de Caetano, porque o país já é o sexto colocado em acesso de internet, mas uns 2 por cento vão saber dizer onde fica Estocolmo. Você sabe? É isso, zona sul…

PS: Essa é uma foto minha bem zona sul.

Respondendo:

Chris: Mas aí você também quer demais priminha. É fácil entender e definir os outros, não a gente mesmo...

Thaís: Sei, me engana que eu gosto...

Lu: Sumida não, sumidaça! mas tudo bem, tava estudando, boa desculpa.

Kobelus: Pois é, e essa ainda era uma estaçãozinha bem meia boca em algum lugar do interior do Japão.

Definições


Boas. Hoje, 1o de Outubro, é oficial: minhas férias se acabaram. É bem verdade que eu só vou ter aulas mesmo a partir da próxima semana, contudo cá estou, em Otsu, meu lar, depois de tanto rodar por este Japão. De todas essas viagens ficaram muitas fotos e algumas teorias, que reparto com vocês. A primeira teoria que me veio durante essas viagens foi sobre o que é o Japão. Bem, o Japão é uma ilha, disso sabemos todos, e quando eu era pequeno fizeram-me decorar que uma ilha era uma porção de terra cercada de água por todos os lados, digo era porque me parece que os geógrafos já mudaram essa definição, mas a mim pouco importa, fico com a definição antiga. Pois se uma ilha é uma porção de terra cercada de água por todos os lados, o Japão é um grande trilho de trem cercado de terra e água por todos os lados. Sim amigos um imenso trilho de trem que liga o país de ponta a ponta, isto é o Japão. Pelos trilhos do trem se pode conhecer tudo o que há para se conhecer por aqui. Através dos trilhos do trem as paisagens do Japão parecem não se alterar, as estações, todas iguais, dão a sensação de que a viagem foi inútil e não se saiu do lugar, mas isso é porque os japoneses se sentem desconfortáveis com o diferente e não previsível, o trem sai do lugar sim, e nos leva a todos os lugares. O porquê de ser o trem o maior meio de transporte por essas bandas é conhecido por todos; o trem é barato, seguro, rápido e não polui. Então a pergunta é inevitável: porque no Brasil não há trens? Bem, as respostas são muitas e não as quero debater aqui, afinal este blog é sobre o Japão e não sobre o Brasil.
A outra coisa que eu percebi por cá, é uma teoria por mim formulada e só por mim acreditada: a teoria do clima único. Se você pegar um trem em um dia chuvoso no extremo sul do Japão, vai viajar o tempo todo em um dia chuvoso e vai desembarcar no extremo norte, acreditem, em uma noite chuvosa. Eu assisto aqui aqueles programas que mostram como será o tempo amanhã, com diferentes previsões e temperaturas paras as diferentes regiões e cidades, mas sei que é tudo enganação, mentira. Conversa para Japainglês ver. O dia, se for chuvoso, o será em todo o Japão, se for de sol, idem. Eu, nascido e criado em Brasília, que já vi e revi imensa sucessão de chuvas e sóis no eixão enquanto se cruza as asas norte e sul, estranho um pouco isso. Sabe como é, brasileiro que é brasileiro está acostumado mesmo é com grandes diferenças, de clima, de gente, oportunidade, dinheiro e é claro, de tempo.
Por falar em tempo, o outono chegou, com ele o friozinho. Outono é sinônimo de fim, e esse outono marca meus últimos seis meses aqui no Japão, ou melhor, nesse trilho de trem, cercado por terra e água por todos os lados. Depois é Brasil, país em que nasci mas para o qual ainda não consegui bolar nenhuma boa definição. É que é difícil definir um país que ainda não se definiu.


Respondendo:

Kobelus: Pois é, cada um no seu quadrado...

Tatá: Sei, vc. só se interessou pela Índia agora por causa da novela, fala a verdade!

Esdras: Idem. (Sacou? Vi o vídeo de vocês na cultura)